Gylmar



Gylmar dos Santos Neves, o maior goleiro da história do futebol mundial, tornou-se uma verdadeira lenda à frente do gol mosqueteiro.


Desde cedo o futebol já era uma grande paixão. Nas peladas em sua rua atuava como ponta-esquerda, mesma posição em que costumava jogar nas equipes amadoras o Juvenil do Corinthians e Juvenil do Hayden, em Santos. Gylmar só foi para o gol quando chegou ao infantil do Grêmio São Luiz, colégio onde estudava. O garoto pegou definitivamente gosto pelo futebol e também pela posição de goleiro, tanto que resolveu deixar o curso comercial básico que cursava para se dedicar ao esporte, o que desagradou sua mãe, Conceição.

Com 16 anos de idade, conseguiu seu primeiro emprego como cobrador em uma fábrica de gelo. Mesmo assim, não desistiu do futebol e tentou sem sucesso treinar no Santos. Aborrecido, acabou parando no Portuários, Clube dos trabalhadores da Companhia Docas de Santos. Mas, atendendo a um pedido de seu irmão Alcide dos Santos Neves, o técnico do Jabaquara, Arnaldo de Oliveira, que era conhecido como "Papa", um velho descobridor de talentos da cidade, resolveu dar uma oportunidade para Gylmar no antigo Hespanha, atual Jabaquara. Além da oportunidade como jogador, conseguiu também um novo emprego, dividindo seu tempo entre os treinamentos e o escritório da sede social do clube .

Em 1950, o jovem de 20 anos foi promovido ao time principal do Jabaquara pelo técnico Armand o Renganeschi. O Jabaquara foi goleado pelo São Paulo por 5 a 1, mas mesmo com este resultado acabou se destacando como o grande jogador da partida evitando um desastre maior. Ele passou a ter uma sequêcia de jogos e continuou se destacando. Suas atuações chamaram a atenção da imprensa, que a cada partida falava mais do goleiro.

No ano seguinte, o então presidente Alfredo Ignácio Trindade desceu a serra do Mar atrás do centromédio Ciciá, companheiro de Gylmar e grande astro do Jabaquara, para reforçar o time do Parque São Jorge no setor do meio-campo. Sabendo da qualidade técnica do jovem goleiro, Trindade exigiu que o Jabaquara colocasse Gylmar na mesma negociação de Ciciá, para que fosse justificada a alta pedida dos dirigente santitas pelo meio-campo. Trindade, sabendo do bom futebol de Gylmar, também pretendia trazer um goleiro jovem e promissor para pressionar os goleiros Cabeção (goleiro reserva da Seleção Brasileira) e Bino a renovarem seus contratos com o clube o mais rápido possível.

Na temporada de 1951, Gylmar, apenas um coadjuvante, disputou a posição de reserva de Cabeção com o oaranaense Bino "Gato Preto". Estreou na equipe titular em um amistoso com o Maureira em 26 de maio, e o Corinthians venceu por 8 a 2.

Gylmar chegou ao Corinthians em maio de 1951 e oito meses depois, em janeiro de 1952, mesmo na reserva, já se sagrava Campeão Paulista. Nem tudo foram flores neste seu primeiro ano no Parque São Jorge. Em 25 de novembro de 1951 o Corinthians enfrentou o forte time da Portuguesa. Debaixo de muita água, em um jogo que mais parecia polo aquático, o Corinthians não resisitiu e levou uma goleada por 7 a3. O goleiro caiu em desgraça. Enfurecida, a torcida corinthiana elegeu um culpado: o novato Gylmar, que graças a esta tarde infeliz só voltou ao time titular quase cinco meses depois, em abril, num amistoso com o Radium de Mococa. Neste período, Gylmar foi injustamente caluniado por dirigentes que o acusaram de ter-se vendido à Portuguesa. Ele era proibido até mesmo de entrar na sede social do clube. Indignado, chegou a declarar: "A moral de um homem está acima de qualquer oferta. Jamais teria aceitado um benefício que prejudicasse meus outros dez companheiros. A Portuguesa, por sua vez também tratou de desmentir o ocorrido e até se propôs acomprar o passe do goleiro.

Após ser execrado pela Fiel, imaginava-se para ele um futuro tenebroso e negro, mas aos poucos o jovem de 21 anos acabou desabrochando para ser o maior goleiro da história do futebol mundial. Gylmar começou a ganhar dp técnico Rato uma boa sequência de jogos, e começou também a mostrar a frieza e maturidade até então ocultas desde que chegara ao Time do Povo. Uma boa atuação se deu na Segunda Edição da Copa Rio, quando ele atuou em cinco das seis partidas disputadas pelo Corinthians e se sagrou vice-campeão. Em 25 de janeiro de 1953, quando São Paulo comemorava su 399° aniversário, agora como titular absoluto da meta, Gylmar tornou-se Bicampeão Paulista, mesmo perdendo o penúltimo jogo para o XV de Jaú, referente ainda ao certame de 1952.

Os títulos conquistados a boa performance no gol mosqueteiro renderam-lhe a simpatia definitiva do novo técnico da seleção Zezé Moreira, que havia decidido convoca-lo para sua primeira Copa do Mundo, na Suíca, em 1954 . No entanto, uma contusão o impediu de representar o país. O outro goleiro selecionável do Parque São Jorge, Cabeção, foi o substituto no Mundial.

Sua ausência na Copa do Mundo de 1954 abriu espaço para que ele se consagrasse vencendo um dos torneios mais importantes de toda a história do Corinthians, o Campeonato Paulista de IV centenário da cidade de São Paulo. Tamanha era a gratidão da gente corinthiana que ele passou a ser chamado de "supremo guardião do centenário".

Logo no ano seguinte, 1955, ele foi convocado novamente para o Sul-Americano extra em Montevideú, desta vez como titular absoluto. E repetiua dose no campeonato seguinte, disputado no Peru, em 1957, conquistando o vice-campeonato.

Jogando pelo Corinthians, em 1958, conquistou a chance de defender a meta brasileira na Copa da Suécia, com o técnico Vicente Feola, substituto do corinthiano Osvaldo Brandão que havia sido preterido por ter personalidade forte. Gylmar, com 28 anos, debutavaem mundiais ao lado de futuras estrelas como Pelé e Garrincha, até então eram tidos como "moleque" e "perna torta".

Na final, em 29 de junho de 1958, em Estocolmo, o futebol arte prevaleceu. Na partida inesquecível de Gylmar e de todos os brasileiros, o Brasil vence por 5 a 2 a Suécia e se sagrou pela primeira vez campeão do mundo, conquistando a taça Jules Rimet. O corinthiano sofreu 4 gols em seis jogos. Com certeza, a imagem eternizada após a conquista da Copa foi o choro emocionado de Gylmar ainda no gramado, após a vitória, abraçado a um garoto também em prantos de alegria, Pelé.

Às vésperas de completar 36 anos de idade, Gylmar participou de sua terceiro Mundial, em 1966 na Inglaterra, mas desta vez o time fez uma péssima campanha e pagou pelos erros principalmente das trapalhadas da CBD, presidida na época por João Havelange. Gylmar voltou para o Brasil apenas com a 13ª colocação.

A história de Gylmar na Copa da Suécia foi fantástica, mas em seu retorno ao Corinthians não foi o que realmente o "Girafa" esperava. Com o desgaste da equipe vitóriosa no início da década de 1950, e culminando com a fila de título que se iniciara, a carreira de Gylmar no Timão foi terminando. Foi só no segundo semestre de 1961 que Gilmar trocou o Corinthians pelo Santos. Deixou o clube magoado, acusado pelo presidente Wadih Helou de simular uma contusão para facilitar a transferência.

Quando era perguntado para que time torcia, Santos ou Corinthians, Gylmar era categórico e dizia que tinha gratidão aos corinthianos e santistas.

Com sua calma, frieza, técnica e liderança, Gylmar foi sinônimo de confiança no gol avinegro. Em dez anos de clube, manteve tranquilos os zagueiros que jogaram com ele, pois sabiam que a única posição do time que jamais poderia falhar esatava guarnecida com o melhor goleiro de todos os tempos.

Ficha técnica:

Nome
: Gylmar dos Santos Neves
Nascimento: 22 de agosto de 1930
Cidade natal: São Paulo (SP) Brasil
Carreira Corinthians: 1951 - 1961
Títulos pelo Corinthians:
Pequena Taça do Mundo (1953)
Campeonato Paulista (1951, 1952, 1954)
Torneio Rio-São Paulo (1953, 1954)
Torneio Internacional Charles Muller (1955)

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