O fim do jejum

22 anos, 8 meses e 6 dias.

Foi esse o tempo em que o corinhtiano demorou pra gritar campeão novamente, após a conquista do título de 1954.

O Corinthians não começou bem o campeonato, que teve o Botafogo de Sócrates como vencedor do primeiro turno. Restava vencer o segundo turno para continuar com chances no campeonato. E não deu outra. Em 18 jogos, o time vence 13 e vai disputar o título do turno. Na semifinal, ganha do São Paulo por 1 a 0, e na final despacha o Palmeiras com uma vitória simples.

Vem o terceiro e último turno. Os oito melhores times do campeonato lutam por duas vagas. Com duas derrotas nos quatro primeiros jogos, o Corinthians é obrigado a vencer os três últimos compromissos, contra Botafogo, Portuguesa e São Paulo, para continuar respirando no torneio.

Com muito esforço, o Timão passa por mais essa batalha e chega até a final contra a Ponte Preta, que contava com craques como Carlos, Oscar, Polozzi, Dicá e Rui Rei.

Como havia perdido três jogos para a Ponte durante o campeonato, sendo um em Campinas por 4 a 0, o Corinthians festejou a decisão da Federação Paulista de Futebol de colocar todos os jogos das finais no Morumbi.

No primeiro deles, vitória corintiana por 1 a 0. A torcida, feliz, já se preparava para fazer a grande festa no domingo, dia 9 de outubro. Com um simples empate, o título, finalmente, iria para o Parque São Jorge. Entusiasmada, a torcida do Timão compareceu em massa ao Morumbi e estabeleceu o recorde de público do estádio que dura até hoje: 146.082 espectadores.

O clima parecia propício para o fim do jejum. Mas, com a contusão de Palhinha no primeiro tempo, a incerteza começou a aparecer. O gol de Vaguinho, que substituíra o atacante, aos 43 minutos, parecia colocar tudo de volta ao normal. Puro engano. Vem o segundo tempo e, para desespero da Fiel, a macaca reage. Dicá, aos 22 minutos e Rui Rei, aos 33, viram o jogo. A decisão estava adiada para quinta-feira à noite.

Apesar de não ser tão grande como no domingo, a torcida corinthiana enche o Morumbi para ver aquele que seria o jogo da libertação, do fim do jejum, que já durava 22 anos, oito meses e seis dias.

Começa a partida e logo de cara, aos 16 minutos, mais de 80 mil corintianos vêem o perigoso atacante Rui Rei reclamar com o juiz Dulcídio Wanderley Boschillia e ser expulso. Quem temia por uma nova tragédia passou a ficar mais aliviado.

Mesmo precisando de um empate no tempo normal e na prorrogação, o Corinthians foi para cima da Ponte. Geraldão, artilheiro do Timão naquele campeonato com 24 gols, quase abre o placar aos 39 minutos, após aproveitar um cruzamento de Vaguinho.

Chega o segundo tempo. Os dois times entram nervosos e muito cautelosos. O medo de tomar um gol fez com que as equipes ficassem apenas se defendendo. Em raros contra-ataques, o perigo aparecia. Em um deles Dicá, da macaca, cabeceia livre na área. Para fora.

Assustado, o técnico Brandão se levanta e manda o time para o ataque. Aos 36 minutos, Zé Maria bate uma falta pela direita. A bola percorre toda a pequena área e vai parar no pé de Vaguinho, que, de bico, chuta a bola no travessão do goleiro Carlos. Na volta, ela quica no chão e sobe para Wladimir cabecear. Em cima da linha, Oscar, também de cabeça, salva. Mas no rebote, a bola sobra para o pé direito de Basílio. O meia, com toda a força, faz então o esperado gol. Festa no Morumbi.



Pouco antes de acabar, Oscar e Geraldão, o artilheiro do campeonato com 24 gols, brigam e são expulsos. Aos 46, Dúlcidio pede a bola e encerra a partida: o Corinthians é campeão. Fim do jejum. Fim do sofrimento.

A torcida invade o campo e comemora com os seus ídolos. Brandão é carregado no colo, o presidente Vicente Matheus perde os sapatos, os jogadores ficam quase nus.

O coro de “é campeão” toma conta da noite paulista e invade a madrugada. A partir daí, surge um novo Corinthians. Acabaram-se os traumas e o time volta a ser o bom e velho vencedor. Podemos dizer que o gol de Basílio foi o mais importante da história corinthiana

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