Poucos jogadores se encaixaram tão bem na definição de craque-problema como Marcelinho Carioca. Dentro das quatro linhas, um excelente jogador. De seus pequenos pés de anjo tamanho 35,5 já saíram inúmeros lançamentos perfeitos, dribles desconsertantes e chutes venenosos que emocionaram milhões de apaixonados torcedores. Porém, fora dos gramados, poucos despertaram tanto ódio como Marcelinho.
Início da carreira
Filho de seu Adilson, jogador que não conseguiu triunfar e virou gari, e dona Sueli, vendedora ambulante, Marcelinho teve uma infância difícil. Com a missão de ajudar na renda familiar, o jovem garoto tinha que vender picolé na praia até a hora de ir para escola. Mesmo estudando e ajudando em casa, o menino Marcelo já mostrava sua paixão pelo futebol e treinava, desde os oito anos, no Madureira, clube que ficava perto de sua casa no Rio de Janeiro.
Em outubro de 86, ainda com 14 anos, o jogador foi descoberto por olheiros e levado ao Flamengo. No maior clube no Brasil, o jogador teve uma ascensão meteórica. Após dois anos na Gávea, quando jogava no juvenil, foi visto por Telê Santana, então técnico do profissional, que o chamou para o time de cima.
A estréia de Marcelinho com a camisa rubro-negra ocorreu no dia 30/11/88, quando, num clássico contra o Fluminense, o jovem atacante de 16 anos substituiu Zico, o maior ídolo da torcida, que se machucara aos 11 minutos de jogo. Na ocasião, o Fla venceu o rival por 1 a 0 e Marcelinho começava sua carreira com pé direito. Ídolo da Fiel Em dezembro de 93, a diretoria flamenguista decidiu negociar o jovem atleta com o Corinthians. Na época, o jogador não queria ser vendido. Não sabia o que estava por vir. Quando chegou ao Parque São Jorge, Marcelinho Carioca mostrou a que veio. No dia de sua apresentação, o atacante de 21 anos previu: "Quero marcar minha passagem aqui. Vim para o Corinthians para ser campeão." Parecia saber que, depois de conquistar dez títulos com a camisa do Timão, seria o maior vencedor dos 90 anos do clube. A primeira taça com o novo time foi conquistada em 1994, quando o Alvinegro venceu a Copa Bandeirantes. No mesmo ano, foi vice-campeão brasileiro, perdendo a final para o rival Palmeiras. Mas foi em 1995 que Marcelinho começou a se transformar num ídolo corinthiano. Foi neste ano que liderou o time em duas grandes conquistas: o Paulista e a Copa do Brasil.
Depois de um 1996 fraco, quando o Timão só levou o Troféu Ramón de Carranza, voltou a brilhar em 1997, quando foi o melhor jogador do Campeonato Paulista, vencido pela equipe do Parque São Jorge. O excelente futebol apresentado fez com que Marcelinho fosse cobiçado por times europeus. Em julho, o meia foi vendido para o Valencia-ESP, por US$ 7 milhões.
Frustração na Espanha
Contratado como craque, Marcelinho foi recebido com grande entusiasmo por parte dos torcedores do Valencia. Porém, esta foi a única boa recordação que o jogador trouxe da Espanha. Nos seis meses que passou lá, o atleta quase não foi aproveitado pelo técnico. Reserva e sem se adaptar à Europa, Marcelinho queria voltar ao Brasil.
Ao saber da vontade do jogador, Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), conversou com o meia e definiu como seria a volta de Marcelinho ao País. Primeiramente, a FPF comprou o passe do jogador junto ao Valencia. Depois, Farah criou o "Disque Marcelinho", para o qual, a três reais por telefonema, os torcedores dos quatro maiores clubes do estado deveriam ligar e escolher o futuro do jogador.
Após 11 dias da promoção, a imensa maioria corintiana trazia Marcelinho de volta ao clube. Foram 62,5% das ligações para o Timão, 20,3% para o São Paulo, 9,5% para o Santos e 7,7% para o Palmeiras.
Quando voltou ao Corinthians, o time não vivia boa fase. Enquanto o meia esteve na Espanha, a equipe corintiana quase foi rebaixada para a segunda divisão do Brasileiro e ele chegava como salvador. Porém, também encontrou Wanderley Luxemburgo no comando. O técnico mostrou logo na chegada do atleta que brigas poderiam surgir. "O Marcelinho não terá regalias. Terá que trabalhar para ser titular".
O primeiro confronto grave entre Marcelinho e Luxemburgo aconteceu em julho de 98. Durante a concentração para a disputa do Torneio Maria Quitéria, em Salvador, o jogador se desentendeu com um dos segurança do clube pois estava voltando ao seu quarto com alguns minutos de atraso. Depois de ser repreendido por Luxemburgo pela chegada fora do horário, discutiu com o treinador e foi afastado por um período de 19 dias. Só foi reintegrado quando pediu desculpas ao técnico.
Depois deste incidente houve um momento de paz no Parque São Jorge. Luxemburgo foi escolhido como novo técnico da seleção brasileira e convocou Marcelinho para duas partidas, contra a Iugoslávia e Equador. Nesse período, os dois chegaram a trocar elogios e abraços.
Porém, a trégua durou pouco. No dia 23 de outubro, na véspera do clássico contra o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro, o jogador discute novamente com um segurança e com o treinador que estava simultaneamente no comando da seleção e do Corinthians. Conclusão: é afastado pela segunda vez em três meses. Desta vez, além de ficar fora da equipe, perdeu duas convocações feitas pelo desafeto.
Só volta ao Corinthians no dia 11 de novembro, quando Luxa atende aos pedidos dos jogadores e da torcida e promove a volta da maior estrela do elenco para a disputa da fase final do Brasileirão. A decisão provou ser a correta quando, liderado por belas atuações de Marcelinho, o Corinthians conquistou o segundo título brasileiro de sua história.
Em 1999, já com Oswaldo de Oliveira no comando do Timão, Marcelinho conquista o Campeonato Paulista e o Brasileiro, competição na qual foi escolhido o melhor jogador. No início de 2000, o meia estava presente no maior título da história corintiana. Atuando com um time cheio de craques, o Alvinegro do Parque São Jorge sagrava-se campeão do primeiro Mundial de Clubes organizado pela Fifa.
Em junho de 2000, na semifinal da Libertadores da América contra o rival Palmeiras, Marcelinho desperdiçou o pênalti que eliminou o Corinthians da competição. A partir daí, a relação do craque com a Fiel não seria mais a mesma.
O segundo semestre do ano foi péssimo e o Timão acabou na penúltima posição da Copa João Havelange. A diretoria alvinegra cogitou trocar Marcelinho com o Cruzeiro, mas as negociações não foram fechadas. Era mais um desgaste para o jogador. No meio do Campeonato Paulista de 2001, o Corinthians ocupava a penúltima posição na tabela. Desde o Mundial, nada dava certo para a equipe. Foi nesse ambiente tenso que Wanderley Luxemburgo voltou ao Parque São Jorge. Em seu comando, Marcelinho e seus companheiros venceram oito jogos seguidos, saindo da penúltima colocação para o título.
Porém, menos de um mês depois, o Timão perderia, em pleno Morumbi, o título da Copa do Brasil para o Grêmio. Era o fim da paz no clube. Nove jogadores foram dispensados por Luxemburgo e uma onda de boatos tomou conta da equipe. Uma notícia proveniente do próprio elenco dizia que houve uma festa entre os jogadores e algumas mulheres na véspera da decisão contra o Grêmio. Com este clima tenso, a diretoria do clube decide fazer a pré-temporada para o segundo semestre na cidade de Extrema, em Minas Gerais.
A cidade mineira foi o local onde ocorreu o fato que acabou de vez com a história de Marcelinho no Corinthians. No dia 20 de julho, uma fonte de dentro do Corinthians afirmou que o jogador Ricardinho teria sido agredido pelos seus companheiros de clube. Além de empurrões e ofensas morais, os atletas teriam acusado o meia de "dedo-duro" e "traíra".
Todo o elenco alvinegro negou imediatamente tal acontecido. Uma semana depois, alguns jornalistas afirmaram que Marcelinho era a fonte. Ele teria telefonado e contado a história à imprensa. Os jogadores corintianos ficaram revoltados com o companheiro e a diretoria resolveu afastá-lo. Não existia mais clima para ele continuar na equipe.
Depois de um mês de negociações frustradas, Marcelinho conseguiu o passe livre na Justiça e se transferiu para o Santos. Em algumas partidas, quando se anunciava um gol contra o Corinthians nos estádios onde a equipe santista estava em campo, Marcelinho comemorava com punhos cerrados, mostrando uma grande mágoa de seus antigos companheiros. O jogador passou ainda por diversos outros clubes, mas nunca mais voltou a ser o Marcelinho do Corinthians.
Em fase descendente, voltou ao Brasil no ano de 2005 para defender o Brasiliense no Campeonato Brasileiro. Seu ponto alto defendendo as cores do time do Distrito Federal aconteceu no dia 2 de outubro, exatamente contra a equipe do Parque São Jorge, no Pacaembu. ANtes de começaro jogo, a Fiel saudou o antigo ídolo: "Uh, Marcelinho!" E no intervalo, o Pé de Anjo recebeu das mãos de dois integrantes da Gaviões da Fiel uma placa em homenagem às alegrias proporcionadas aos corinthianos. Ao final da partida, Marcelinho correu em direção ao alambrado, como nos velhos tempos, prometendo um dia voltar.
Em fevereiro de 2006, foi confirmada a sua volta. Entretetanto,uma suposta rejeição do própio elencom ou por questões políticas envolvendo diretoria e MSI, que seque foi consultada sobre a contratação, fez com que Marcelinho não atuasse em nenhuma partida do Campeonato Paulista e também não fosseinscrito na Libertadores da América de 2006. Só dia 18 de abril, 55 dias depois após sua contratação, é que ele foi liberado para treinar no clube. AInda sim, os treinos eram feitos em separado, com apenas a companhia de um preparador físico no Parque Ecológico.
Marcelinho só foi reintegrado ao elenco principal após a precoce e traumática eliminação da Libertadores, frente ao RIver Plate. Sua reestreia acontece na derrota por 1 a 0 para o Internacional, no estádio do Morumbi. Sua passagem foi muita curta. Com a chegada de Leão ao comando técnico, o meia se despediu com cinco jogos e nenhum gol marcado.
No fim do Campeonato Brasileiro de 2009, o "Pé de Anjo" declarou que havia se aposentado definitivamente do futebol. Porém, a diretoria alvinegra anunciou o seu retorno, mas não como jogador, e sim como um garoto propaganda dos festejos do centenário do Corinthians.
No início do ano seguinte, em janeiro, o ídolo disputou um amistoso no Pacaembu contra o Huracán da Argentina. Jogou apenas o primeiro tempo. No intervalo, Marcelinho Carioca fez questão de agradecer ao apoio da torcida que o acompanhou por todos estes anos e subiu no alambrado do Pacaembu para celebrar com os fanáticos corintianos. Passada a festa, Mano Menezes o substituiu.
Ficha técnica:
Nome: Marcelo Pereira Surcin
Nascimento: 31 de dezembro de 1971
Cidade natal: Rio de Janeiro (RJ) Brasil
Carreira no Corinthians: 1993 - 1997; 1998 - 2001; 2006; 2010
Títulos pelo Corinthians: Mundial interclubes FIFA (2000)
Campeonato Brasileiro (1998, 1999)
Copa do Brasil (1995)
Campeonato Paulista (1995, 1997, 1999, 2001)
Torneio Ramón de Carranza (1996)
Copa Bandeirantes (1994)
Cabeceio: Muito bom para um jogador de baixa estatura.
Chute: Pé direito - Sabia dosar precisão e força excepcionalmente.
Pé esquerdo - Colocado.
Velocidade: Deslocava-se bem, mas não era exatamente um velocista.
Habilidade: Fantástica, principalmente nos lances de bola parada.
Posicionamento: Muito bom, pelo lado direito do campo.
Marcação: Costumava se exceder nas faltas e às vezes apelava.
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