Casagrande

Quem via aquele jovem cabeludo chegar ao Parque São Jorge para um treino no início dos anos 80 custava a acreditar que estava ali um dos ídolos do Corinthians. Mais do que isso, um ídolo para a juventude da época – ainda tentando se libertar da vigilância dos tempos de ditadura. Casagrande nunca escondeu de ninguém o que era e o que pensava. Dentro de campo seus gols eram a resposta para quem duvidava do seu estilo de vida pouco comum para os mais velhos, na época.

"Eu andava com calça desbotada, mochila cruzada no peito, um estilo meio hippie até. Sai várias vezes para tomar cerveja e ir a show de rock com o Magrão (Sócrates), porque gostava. Isso chocou algumas pessoas. Todo mundo pensa que jogador não pode beber, nem fumar, só pode dormir, sem transar. Pra que fazer tudo isso escondido?", diz o hoje marido de Mônica, sem fumar há 15 anos, casado há 17 e pai de Ugo, Victor Hugo e Symon.

Casagrande começou a jogar bola nas categorias de base do Corinthians, aos 13 anos. Chegou ao profissional com um currículo de 22 gols desde o juvenil C até os juniores, incluindo dois gols em três jogos na Taça São Paulo. Na equipe principal do Timão, num dos treinos, deu dribles desconcertantes até em Sócrates. Não demorou para ser proibido de treinar entre os profissionais. Em 81, o Corinthians emprestou Casagrande, um jovem de 18 anos, para a Caldense (MG). Lá assinou seu primeiro contrato como profissional e disputou o Torneio Seletivo e o Campeonato Mineiro atingindo a marca de 19 gols.

De promessa à realidade.

A boa campanha na equipe mineira fez o Corinthians chamar de volta seu menino prodígio. Em 82, Casagrande voltou ao Parque São Jorge para atuar ao lado de Sócrates, Biro Biro, Wladimir, Zenon e Cia. O Timão vinha da Taça de Prata, a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e chegou em quarto lugar na Taça de Ouro. Além disso conquistou o Campeonato Paulista num time que ficou marcado como um dos maiores de todos os tempos.

Ao mesmo tempo que o Corinthians mostrava arte nos gramados, os jogadores criavam a "Democracria Corintiana". Casagrande participou ativamente do movimento que pedia a abertura e, inclusive, teve problemas com a polícia. No final do ano foi preso, acusado de portar entorpecentes. "Fiquei detido uma noite, depois fui liberado, por falta de provas. A cocaína não era minha", diz. "Estava na porta da casa de um amigo na Penha, quando a Rota parou e enquadrou a gente. O cara veio revistar minha bolsa, saiu e voltou com um vidrinho: "Que é isso?". Falei: "Cocaína, acho". Aí me levou embora.", conta.

As contusões também atrapalharam bastante a carreira do atacante. Em 83, após o bicampeonato paulista, os joelhos não agüentaram tanta violência dos zagueiros. Uma delicada cirurgia no menisco o afastou dos gramados por um bom tempo. O Corinthians, então, emprestou-o ao São Paulo no início do ano seguinte.

O Morumbi foi a casa do atacante por seis meses. Tempo suficiente para marcar 11 gols e ser querido pela torcida. E também para a diretoria do Corinthians recuperar a confiança em seu atacante. Por isso, na metade do ano estava de volta ao Parque São Jorge. O nível foi mantido e Casagrande continuou no clube até o primeiro semestre de 86.

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